quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

EDSON BOARO: Novo técnico é esperança esmeraldina

Comércio da Franca, Entrevista de Domingo
Domingo, 25 de janeiro de 2009

Dirceu Garcia/Comércio da Franca
Muita Fé-  Edson Boaro acredita que pode levar a Francana à Série A2 do Campeonato Paulista. O novo técnico diz ter os pés no chão e contar com a ajuda do torcedor
Muita Fé- Edson Boaro acredita que pode levar a Francana à Série A2 do Campeonato Paulista. O novo técnico diz ter os pés no chão e contar com a ajuda do torcedor
Fernanda Bufoni
da Redação

O novo técnico da Francana é do tipo calado e discreto. Edson Boaro, 49, recebeu a reportagem do Comércio à beira do campo do Brasilândia. Sem tirar os olhos da equipe que treinava para o amistoso contra o time de Uberlândia (realizado em 17/01), Boaro contou parte de sua história como jogador de futebol e, mais recentemente, como técnico. Foram mais de 60 minutos de conversa descontraída nos quais ele mostrou ter o pé no chão.

Natural de São José do Rio Pardo, Boaro começou a jogar futebol aos 15 anos na Ponte Preta, em 1975, depois de passar em uma peneira. Foi na “Macaca” que ele se profissionalizou e lá permaneceu até 84. Em seguida foi para o Corínthians onde se sagrou campeão paulista em 88. Boaro foi autor do gol de empate no primeiro jogo da final contra o Guarani. “Neto de bicicleta fez o dele e eu fiz o gol do empate. Em Campinas, o Viola fez o gol que nos deu o título na prorrogação ”, lembrou.

Edson jogou por algum tempo como meio-campista no início da carreira, mas foi na posição de lateral-direito que cresceu no futebol. Chegou à Seleção Brasileira e disputou a Copa do México em 1986 sob o comando de Telê Santana. Mas deu azar e se contundiu no segundo jogo. Não é de se gabar. Fala pouco sobre aquela época. Acredita ser privilegiado por ter feito parte de uma geração de atletas que teve jogadores como Zico e Sócrates. Diz não sentir falta da fama e afirma nunca ter ganho um salário milionário. “Naquela época o dinheiro acompanhava o que você produzia. Não era como é hoje em dia”.

Depois do Corínthians, jogou ainda no Palmeiras com o técnico Leão e ainda no Guarani, no Botafogo de Ribeirão Preto, no Noroeste, no Remo e no Paissandu. Em 96 deixou os campos e dois anos depois decidiu seguir carreira de treinador. Ao todo já são 35 anos de dedicação ao esporte.

Boaro chegou a Franca há pouco mais de um mês, a convite do gerente de futebol da Francana, Juninho Fonseca. Ele afirma ter havido uma mudança de mentalidade da diretoria esmeraldina que pode levar o time à primeira divisão em cerca de quatro anos. “Acredito muito na minha história e no meu trabalho. É claro que a gente vai errar, mas a vontade é de acertar e está todo mundo trabalhando para isso”.

A Francana estréia na série A3 do Campeonato Paulista no dia 31 de janeiro jogando fora de casa contra o Grêmio Osasco.

Comércio da Franca- O senhor jogou em grandes clubes e disputou até Copa do Mundo pela seleção brasileira. Como avalia a experiência de treinar a Francana, um time da Série A-3 de São Paulo?
Edson Boaro -
Foi através de um convite que o Juninho Fonseca (atual gerente do futebol da Francana) me fez. A gente já se conhece há muito tempo. Tivemos a oportunidade de trabalhar juntos na Ponte Preta e no Corínthians. Este é o primeiro trabalho dele como gerente de futebol. É uma pessoa de muita honestidade, coisa que hoje é difícil encontrar dentro do futebol. Às vezes para você montar uma equipe, você tem de trabalhar em cima de alguns vícios, com pessoas recebendo vantagens e benefícios. É muito difícil você montar um time com pessoas que têm intenção de fazer um trabalho honesto. Onde vai jogar o melhor, que vai ser escolhido o melhor, sem ter o interesse de um ou de outro. A gente conversou, analisou este projeto de Franca desde o início e nos próximos três ou quatro anos planejamos chegar na 1ª divisão do futebol paulista. A cidade comporta. A Francana está só adormecida. As pessoas começaram a abrir o olho agora. É por isso que estamos tentando neste primeiro passo organizar algumas coisas aqui. Acho fundamental a participação, a presença da torcida, da imprensa... Para que possam não só lembrar dos erros do passado, de pessoas que se aproveitaram muito da Francana. Eu acredito que daqui para frente seja uma nova vida. Um primeiro passo para mudarmos isso. Temos que ter uma integração total de torcedor, diretoria e imprensa. Não é fácil fazer futebol. Joguei muito contra a Francana em 1978/1980. É uma equipe de tradição e a gente quer que ela volte a ser o que era antes. Porque tem condições para isso. Aqui há um público que gosta de futebol. Desde que seja uma coisa apresentável, com qualidade. Isso é normal: colocou qualidade, o público gosta.

Comércio - Como a população o recebeu?
Edson -
Muito bem. Principalmente os corintianos. Eu gosto muito desse clima de Franca. Mas sei que o que prevalece é o resultado em campo. Não existe esquema melhor para treinador que a vitória.

Comércio - Falta alguma coisa para você poder trabalhar melhor?
Edson -
Nós temos dificuldades. A principal delas é a concorrência para formar a melhor equipe. Temos jogadores de qualidade com os quais a gente já contava e que foram para outros times. Outra dificuldade era lugar para treinar, mas já melhorou muito. Estamos treinando no campo do Brasilândia e em Patrocínio Paulista e Ribeirão Corrente. Com o resto - alimentação, estadia, transporte, material - estamos tranqüilos.

Comércio - Você já treinou equipes menores do que a Francana?
Edson -
Trabalhei em Taubaté, Rio Claro, Guaratinguetá, sempre desbravando... Dando o primeiro passo. Eu estou buscando meu espaço. Como busquei como atleta, quando eu não tinha o que colocar no pé. E consegui chegar à Seleção Brasileira. Estou fazendo o mesmo caminho como técnico de futebol. Sei que é muito mais complicado porque não depende só de mim, depende das equipes, do projeto... Mas a gente busca com vontade de acertar. E acredito muito no meu trabalho. Acredito na minha história.

Comércio - Nesses times que você citou quais foram bons resultados?
Edson -
Disputei duas copas do Brasil no União de Rondonópolis e no CFZ de Brasília (do Zico). E em 2007 no Lemense fiz a mesma coisa que estamos fazendo agora. Começando do nada. Isso é o mais difícil porque você monta o projeto e depois na hora de comer o filé mignon vem outro e termina o seu trabalho. Mas eu espero que isso não aconteça aqui. Minha intenção é ficar e fazer a Francana chegar na A-2. Estou concentrado nisso.

Comércio - Há algum “prata da casa” que se destaque em Franca?
Edson -
Não dá para dar um destaque, mas posso dizer que se o jogador está com a gente é porque tem qualidade. Nós fizemos uma avaliação aqui antes de começar o trabalho com a base. Estamos trabalhando com muitos atletas que estavam no grupo sub-17. É claro que eles terão que ganhar experiência e vai ser um pouquinho mais forçado. A média de idade dos jogadores é de 19 anos. Mas há alguns que em um espaço de dois ou três anos podem surpreender...

Comércio - A sua história muda sua relação com os atletas?
Edson -
A história é muito interessante desde que você saiba usar. Não quer dizer que seja fundamental. Eu cito poucos exemplos da minha época. O astro do que eu estou fazendo são os atletas. Eles é que vão dar o resultado dentro do campo. Eu sou um componente importante, tenho minha responsabilidade, mas acho que é como Muricy Ramalho (técnico do São Paulo Futebol Clube) já está cansado de falar. O treinador representa só 15%, mas eles têm de ser totalmente aproveitados. Nesse pouquinho que ele tem de participação tem de ser o melhor possível.

Comércio - As dificuldades da Francana são conehecidas. Qual a sua expectativa quanto à parte financeira?
Edson -
Estou aqui há mais ou menos um mês e por enquanto estou tranqüilo. A dificuldade existe, mas eles estão trabalhando forte para poder trazer patrocínios e condições de trabalho. Estamos praticamente começando do zero, então é preciso um período para a gente se adaptar. Espero que em pouco tempo a Francana tenha condições de buscar seu espaço na série A2, e as coisas comecem a melhorar. A Francana tem de mostrar credibilidade sobre o que está sendo feito e falado para que as pessoas acreditem no projeto de chegar nos próximos quatro anos à primeira divisão.

Comércio - Está pronto para as críticas da torcida, caso os resultados não sejam favoráveis?
Edson -
Não estou preocupado com isso não. É muito fácil você falar quando se está de fora. Só na hora em que você entra é que você vê a dificuldade. Às vezes não é nem questão de dinheiro. Não há mesmo onde encontrar jogadores para compor o elenco.

Comércio - Como tem sido seu relacionamento com os francanos?
Edson -
Acho que as pessoas não acreditam pelo que aconteceu no passado do clube. Chegamos agora e tem gente achando que somos farinha do mesmo saco. Mas eu acredito que estamos fazendo uma mudança. Agora, para você mudar a mentalidade das pessoas tem de ser a partir do que acontece dentro do campo. É do clube para fora não dá para ser o inverso. Na diretoria a mentalidade agora é de acerto. É claro que a gente vai errar, mas a vontade é de acertar e está todo mundo trabalhando para isso.

Comércio - O senhor foi convocado, enquanto jogador, para a Copa do Mundo de 1986 mas se machucou logo no segundo jogo. Como encarou isso?
Edson Boaro -
Eu não considero muito como azar. Encaro como acidente de trabalho. A gente que trabalha com o corpo está sujeito a isso. Até por causa do ritmo forte de treinamento. Passamos quatro anos em preparação na Toca da Raposa. O preparador físico era Gilberto Tim. Um carrasco, que Deus o tenha! Ele exigia muito. Mas é coisa que acontece no futebol. Eu tenho muito mais coisas para ver aí de positivo do que de negativo. Gostaria muito de ter ficado jogando até o final, mas infelizmente não deu... Isso faz parte.

Comércio - O que aconteceu depois de sua saída da Seleção Brasileira?
Edson -
O auge da carreira de um jogador de futebol é chegar a uma copa do mundo. Mas para chegar lá o atleta tem de ter uma alta performance no clube em que joga. Fui contratado pelo Corínthians pelo que eu fiz na Ponte Preta. Continuei no clube até 88. Em seguida fui para o Palmeiras, onde fiquei dois anos trabalhando com o Leão. Em 91 recebi um convite para trabalhar no Guarani. Como estava tendo problemas com o treinador do Palmeiras, decidi aceitar. Na época já estava com 31 anos e joguei no Guarani até 96. Nós subimos o time com a minha chegada. E subimos o Botafogo de Ribeirão Preto também.

Comércio - O senhor sentiu muito o anonimato depois de ter sido famoso?
Edson -
A maioria sente, mas eu não tive esse problema não porque sempre fui muito consciente das coisas. De que o momento é o mais importante. Sempre gosto de olhar para o que eu sou hoje e o que posso fazer no futuro. Não para o que fiz no passado. Acho que foi legal. A história é boa, mas não gosto muito de citar o que fiz. Tenho muitos amigos jogadores de futebol que sentiram muito, ficaram depressivos e até viraram alcoólatras. Porque você está sempre no jornal e em revistas e de repente ninguém fala mais em você.

Comércio - E conseguiu ganhar muito dinheiro com o futebol? Tem noção de quanto?
Edson -
Naquela época o dinheiro acompanhava o que você produzia. Não era como é hoje em dia. Não tenho idéia. Naquela época não existiam contratos milionários. Tínhamos que trabalhar muitos anos para poder fazer um pezinho-de-meia. Que beleza se fosse igual ao Kaká. Na época eu mesmo fazia os contratos. Não tinha empresário. Aliás, essa mudança foi muito boa para os atletas. Agora a maioria tem uma pessoa para dirigir sua vida profissional.


Comércio - Qual das seleções de Telê Santana era melhor, a de 82 ou a de 86?
Edson -
A seleção de 82 foi realmente imbatível, mas a de 86 foi muito boa também. Perdeu para a França nos pênaltis. Saiu até invicta. Tinha bons jogadores: Sócrates, Careca, Falcão, Zico, Júnior, Muller, Júlio César, Edinho, Branco. Fico muito orgulhoso de ter participado dessa geração de atletas. E o que eu passo para os meus atletas é muito do que eu aprendi com eles. Para você ser um grande jogador, de alta performance, você tem de ter disciplina. Não é só saber jogar. É uma série de fatores. É você se cuidar fora de campo, ter uma família do lado, ser um atleta dedicado de verdade. Eu fui ter o meu primeiro sapato com 10 anos de idade. Tive que remar muito para poder buscar o meu espaço no esporte, que foi a profissão que eu escolhi. E eu nem sabia que isso era uma profissão. Jogava porque gostava. Somos privilegiados por receber uma grana por uma coisa que todo mundo gosta de fazer que é jogar futebol. Pouquíssima gente tem essa oportunidade.

Comércio - Há algum técnico que o inspire?
Edson -
Eu gosto muito do trabalho do Muricy porque não tem mistério. Fala a linguagem do atleta. É muito consciente e não deixa nada atrapalhar seu ambiente. É lógico que ele trabalha em um grande clube que dá um respaldo muito grande para ele. É um casamento perfeito. Você ter um treinador como ele, que os atletas entendem, e o clube dando condições para ele poder trabalhar.

Fonte: Comércio da Franca

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